Vivemos em um mundo em que a urgência para tudo se tornou padrão de vida para muitos. Tudo precisa ser consumido da forma mais rápida possível, tudo precisa acontecer de maneira imediata — caso contrário, sentimos que estamos ficando para trás. Mas será mesmo? Já pararam para pensar que essa “vida urgente” pode não ser a mais adequada para o mundo profissional?
Em 2012, quando me tornei Sênior (como comento no vídeo acima), tudo era bem diferente. As redes sociais ainda engatinhavam, e, consequentemente, a pressa por tudo era muito menor. No campo de Qualidade de Software, a automação de testes não era requisito obrigatório: valorizava-se muito mais o conhecimento em técnicas de testes manuais do que em automação. Ela já existia, mas poucas empresas buscavam profissionais com esse perfil. Ah, e nessa época, ainda éramos chamados de “Analistas de Testes”.
Antes disso, em 2010, quando comecei como estagiário, tive grandes mentores ao meu lado. Eles souberam frear meus anseios e me colocar em um trilho que valorizava estudar e aprender, em vez de subir rápido demais sem a base e a vivência profissional que uma senioridade superior exigiria — ensinamentos esses que levo comigo até hoje. Assim foi feito: meus três primeiros anos em Testes de Software foram intensos em aprendizado e prática. Esse período me credenciou a conquistar uma vaga de Analista de Testes Sênior em uma grande empresa do varejo nacional, a B2W.
Mas como eu soube que já era Sênior? Na verdade, eu não sabia. Eu me coloquei à prova para entender como o mercado me via. Basicamente, fui monitorando vagas, entendendo o que elas pediam em comum, quais requisitos eu já tinha, quais precisava aprimorar e quais ainda precisava aprender. Com essa lista em mãos, quando me senti confortável, decidi me candidatar para uma vaga de Sênior — simplesmente fui. Era uma época diferente: as vagas eram mais homogêneas, os requisitos também, e isso facilitava compreender o mercado. Bem diferente de hoje.
Ainda assim, mesmo naquele contexto, eu precisava me manter atualizado para continuar no patamar que havia alcançado. Com o tempo, a automação de testes funcionais e não funcionais foi ganhando cada vez mais relevância. Mais requisitos surgiam, trazendo a sensação de que precisávamos aprender algo novo todos os dias. Isso leva muitos a viverem em constante dúvida: “Será que estou pronto para ser Sênior?”
E aí voltamos ao tema da urgência. Essa é a grande vilã de muitos quando o assunto é evolução na carreira. Com tanto conteúdo, tantas ferramentas, novas linguagens e frameworks surgindo, é natural sentir que nunca sabemos o suficiente.
Mas o grande ponto é entender o que realmente significa ser um Sênior. Não é saber tudo sobre tudo. Nossa área evolui muito rápido e é humanamente impossível acompanhar tudo em tempo real.
Para mim, uma pessoa Sênior é aquela que possui conhecimento e experiência suficientes para identificar oportunidades ou problemas e trazer melhorias. É alguém capaz de orientar seus pares ou equipe para caminhos que tragam resultados palpáveis. É quem consegue dar feedbacks que realmente agregam, assim como receber feedbacks de forma madura, absorvendo os pontos trazidos e transformando-os em ações. É também quem pode ser referência técnica em assuntos relacionados à Qualidade de Software, entre outros aspectos.
Perceba que em nenhum momento falei sobre conhecer a ferramenta X ou Y, dominar CI/CD ou outros pontos que, muitas vezes, aparecem em descrições de vagas. Isso hoje é esperado de todos, seja júnior (apesar de discordar que esses requisitos sejam cobrados para um júnior), pleno ou sênior. O que realmente diferencia um Sênior são as soft skills conquistadas ao longo do tempo de experiência. Mais importante do que conhecer Robot Framework, Cypress, Playwright, K6, JMeter, RestAssured ou qualquer outra ferramenta é saber lidar com os problemas do dia a dia, ter o conhecimento necessário para analisá-los e trazer soluções.
Por isso, minha sugestão é: não pule etapas. Aproveite ao máximo o momento em que está agora, sem aquela urgência exacerbada para finalizar a etapa na qual você está agora. Você vai saber quando chegar a hora de “subir de nível”. E, quando esse momento chegar, se desafie sem medo. Se conseguir, ótimo. Se não, volte, estude mais, viva a experiência em que está, e tente de novo. Sem pressa, sem correria, tudo no seu tempo.
Com o tempo, a pressão que você coloca nos seus próprios ombros vai diminuir e tudo vai fluir naturalmente.









